domingo, 4 de agosto de 2013

No Name - 1

Caso você tente adivinhar, nem se incomode em tentar, esta história deve ter acontecido há alguns anos, ou deve estar acontecendo agora, ou nunca acontecerá. Enfim, é puro fruto de uma imaginação. A minha.

Numa terça-feira comum, Clarice sai de sua aula de manhã, pega seu carro no estacionamento e ruma ao seu trabalho. Como todos os dias, sua rotina segue normalmente, ela liga o rádio e pegar as mesmas ruas para chegar aos mesmos destinos nos mesmo horários. Hoje ela decide fazer diferente. Pega uma rua um pouco menos movimentada por carro e um pouco mais por caminhões, pois é uma área de depósitos. Mesmo não gostando muito de caminhões perto de seu pequeno carro hatch, Clarice opta por este caminho, pois quer chegar mais cedo no trabalho para que, com sorte, também saia um pouco mais cedo. Ao entrar na rua menos movimentada, ela observa que está vazia e sem caminhões. Feliz com a sorte que dera, acelera para passar logo esta parte do caminho. O que Clarice não contava era o Seu João e
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Seu João saira naquele dia atrasado com sua entrega. Havia dormido em casa naquela noite, depois de dois meses de viagens pelo Brasil. Sua mulher, muito chateada com a constante ausência do marido, vida de caminhoneiro, resolve discutir a relação naquele dia. Seu João, depois de acalmar sua esposa de noite e dormir muito mal na madrugada, acaba levantando um pouco mais tarde do que deveria, se veste um pouco mais devagar do que deveria, toma seu café um pouco mais tarde do que deveria. Entra no caminhão e o danado insiste em não querer pegar. Apenas na terceira tentativa de dar a partida o caminhão acorda. Seu João tinha que largar a carga que levava no caminhão em seu depósito, carregar outra em outro depósito e partir em viagem por mais, quem sabe, dois meses. O que Seu João não contava era Clarice e
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Marcos trabalhava de manhã e a tarde todos os dias. Ainda tinha aulas à noite. Mas, naquela terça-feira, ele decidira inventar uma desculpa qualquer para não ir trabalhar. Ficou em casa naquele dia, só levantou quando deu vontade - lá pelas doze horas mais ou menos. Ligou a TV, abriu a geladeira e viu que não havia nada de bom para comer. Não se incomodou em pedir tele-entrega nem de sair para almoçar. Ficou em casa. O que Marcos não contava era aquela ligação horrível que receberia naquele dia.
O telefone tocou e ele, preguiçosamente, atendeu.
- Alô.
- Marcos, Oi. É a Ivone, mãe da Clarice.
Ele podia ver o terror na voz dela. Ficou gélido.
- Sim, fale.
- A Clarice...
- O que houve?!
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Clarice acelerou pela rua deserta de veículos. De um dos lados da rua um paredão de pedras, do outro, várias garagens de saída de caminhões. Clarice, sem olhar muito, passou por várias e quando passou por aquele enorme portão azul marinho
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Seu João acabara de carregar seu caminhão de toras de madeira e está atrasado. Com pressa pula para dentro da cabine do caminhão e dá a partida. O caminhão responde bem e ele, sem olhar muito seus retrovisores, dá ré.
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Clarice vislumbra um caminhão à sua esquerda, mas tudo acontece tão rápido que ela nem consegue entender a cena. O fato é: o caminhão carregado de toras de madeira acertou em cheio seu carro, justamente do seu lado, o da direção.
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- Clarice sofreu uma acidente.
- Ela está bem?!
Consegue ouvir o desespero de Ivone se transformar em choro.
- Não! Ela está na UTI do Hospital Nossa Senhora do Carmo.
Marcos não consegue raciocinar direito. Nem falar. Apenas desliga o telefone e corre para o primeiro ponto de táxi de se lembra. Dirigir no estado emocional que estava seria muito arriscado.
Marcos havia sido namorado de Clarice durante muitos anos. Chegaram até a noivar, mas não deu certo. Contudo, Ivone sabia que ele se importava muito com ela ainda e decidiu avisa-lo.
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Ivone, desesperada, já fumara duas carteiras de cigarro enquanto esperava o parecer do médico sobre o estado de Clarice. O médico afirmou que o estado dele é grave mas estável. Clarice sofreu vários traumas em todo o corpo, mas está respirando bem e a pressão está um pouco alta, mas nada alarmante.
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Marcos chega na porta do hospital tão ofegante que parece ter corrido até lá e não ido de táxi. Ele entra e pergunta à primeira mulher de branco que vê:
- Onde é a UTI?
- Subindo as escadas, à direita e depois à esquerda, Senhor.
Ele nem se dá o trabalho de agradecer. Voa escadas acima e entra na sala de espera da UTI. Vê Ivone sentada em um canto, cabisbaixa.
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João ouve um estrondo no mesmo momento em que sente uma oscilação em seu caminhão. Ele pensa "Ah, não! Logo agora?! Que droga!". Desce e anda até a rua. Ele que achava que havia batido na grande parede de pedras, se espanta ao ver que espremeu um pequeno Nissan March azul entre seu caminhão e a grande parede de pedras. João entra em desespero ao ver que a motorista é uma jovem e está desacordada. Ele começa a gritar por ajuda e liga para a polícia, para o corpo de bombeiros, para a ambulância, enfim, para todos os números de emergência que se lembra.
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Ivone e Marcos se cumprimentam e ela explica a ele mais ou menos o que entendera ter acontecido. Falou sobre um tal de João que era o responsável pelo caminhão que havia batido e ressaltou o desespero daquele homem.
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João acorda de um sono profundo e vê luzes intensas acima de si. Se dá conta de que está na sala de observação de um hospital. Ele levanta, sua cabeça dá voltas, dói muito. Uma querida enfermeira lhe acalma e lhe explica que ele ficou muito exaltado com o acidente que ocorreu e que teve uma crise de pânico. Eles tiveram que seda-lo e coloca-lo em uma maca. João lembra-se vagamente de seu dia, tenta reconstruí-lo e, quando chega na parte que vê a jovem desacordada em seu pequeno carro, se atira na cama de novo, exausto apenas por lembrar da cena.
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Continua
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